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Bombeira voluntaria: mais do que uma paixão

enero 04, 2018 Leave a Comment

Posso dizer que fiquei surpreendida por uma situação que desconhecia, a dos bombeiros voluntários de Portugal, conhecidos como os soldados da paz. Talvez passei ao lado deles na última viagem que fiz a Portugal, quando o céu todo era cinza e escuridão. Não posso nem imaginar a dureza deste trabalho, tão perigoso e que tem segadas tantas vidas.

Tive a sorte de conhecer uma destas pessoas, a Ana. Sim, uma mulher bombeira (coisa pouco común em Espanha) e além disso, muito nova, como os seus colegas bombeiros voluntários. Jamais imaginaria que o fosse e que tivesse trabalhado oito anos nisto. Na atualidade integra a Associação dos Bombeiros Voluntários Cabeceirenses (Cabeceiras de Basto).

Ana Sim: bomberia voluntaria

P: Cómo foi que te apaixonaste pela profissião?

R: Ser bombeira não é uma profissão é um gosto, uma paixão que surgiu com a necessidade de querer ajudar os outros. Enquanto estive no secundario, passava muito tempo na corporação, contudo depois de ir para a Universidade (UTAD-Vila Real) tirar o curso de Arquitetura Paisagista, efetuava os serviços de voluntariado ao fim-de-semana e no Verão, onde integrava as equipas de combate a incêndios florestais.

Vê-se a sua paixão pela preservação da floresta. Preservação que passa pela prevenção, o primeiro e mais importante.

P: Como engenheiro-paisagista, achas que o tipo de árvore é importante no risco de incêndio? Por exemplo no caso dos eucaliptos ou os pinheiros?

É um assunto delicado, porque existem empresas que necessitam dos eucaliptos, contudo em Portugal temos uma plantação descontrolada e nada organizada e é utilizada porque é uma especie de crescimento rápido. Mas sim, as árvores são os elementos mais importantes porque o comportamento do fogo numa floresta de folhosas é menos intenso que num pinhal ou eucaliptal.

P: Qual a tua opinião sobre o abandono das terras de agricultura e dos bosques, dos maus acessos e da falta de limpeza dos matos e de compartimentação, e a influencia disto nos incêndios.

Temos quatro elementos essenciais, a terra, o ar, o fogo e a água, o que significa que os fogos/incêndios irão existir sempre, porque o fogo é um dos elementos que ajuda na regeneração dos solos. O problema que se poem é que não sendo permitida a utilização do fogo nesta regeneração as pessoas inconscientemente utilizam, principalmente os pastores na regeneração dos pastos para o gado e como é um evento considerado ilegal em determinadas epocas do ano é feito e depois acaba por se descontrolar e provocar estes fenomenos de grandes incêndios, isto na minha opinião e no pouco conhecimento que tenho em relação a utilização do fogo nas nossas culturas sociais.

Contudo, se houvesse um apoio especializado em efetuar fogos controlados (fogos de inverno) e não existisse tanta burocracia, os grandes incêndios no Verão não aconteciam com as dimensões e proporções que assistimos este ano, porque é normal em Portugal ouvirmos falar de incêndios, sendo que este ano como houveram mortes a mediatização foi diferente.

A má gestão dos espaços abandonados deve-se aos custos elevados quando falamos em limpezas de corte e desbaste, sendo que na minha opinião a utilização do fogo controlado seria a solução mais economica e eficaz.

P: Achas importante ter mais serviços de vigilancia na floresta? É suficiente a limpeza na floresta feita pelo Estado?

A gestão florestal ou a limpeza que o Estado faz é escassa e muito arcaica, sendo que praticamente não existe uma limpeza de matos.

Os serviços de vigilancia é um sistema pouco comum durante o Inverno, sendo somente utilizado no Verão, contudo na minha opinião a vigilancia no Inverno é importante para reconhecimento de caminhos, de locais criticos e de reconhecimento de pontos de água, enquanto que no Verão deveriam ser utilizados para rondas e apoio aos pastores, em ações de seniblização na utilização do fogo.

Estes profissionais que estão a pôr a sua vida em risco pela protecção de vidas humanas e bens em perigo, são uns herois pouco reconhecidos e sem recursos. Não só não têm um ordenado, também têm de comprar o qué precisarem para o seu trabalho, as coisas que se gastam com o uso, porque não chega com os mínimos subsídios do que a associação dispõe.

P: Qual é a função da Cámara Municipal em relação à tua corporação? Achas preciso um maior apoio e financiamento?

O municipio (Camara Municipal) oferece uma verba anual aos bombeiros, de apoio e pagamento de alguns serviços prestados. O verdadeiro funcionamento, na minha opinião, devia surgir na criação de uma equipa permanente de bombeiros com apoio e financiamento por parte do municipio.

Um bombeiro assalariado tem um salario de uns 800 euros por mês, porém os ideais não dão para manter uma família e pagar as contas ao final do mês. Esta situação faz com que, como muitos outros, a Ana está a pensar se é possível manter a atividade profissional e estar disponível como bombeira voluntária. Cada vez são menos os voluntários. Ter um emprego faz com que ás vezes não se possa estar disponível .

Ainda por cima, em muitos casos, se ocorre uma emergência, têm de deixar o seu trabalho se forem requisitados. A Ana essa situação não a acontece, porque o seu trabalho não é próximo da sua corporação, contudo quando se encontra na sua zona, no caso de tocar a sirene ou se receber uma chamada a solicitar apoio, ela desloca-se para qualquer necessidade.

Conta-nos que também fazem de graça ações de formação para a população ou empresas, não sendo certificadas, de suporte basico de vida, como uma forma de integrar a população e para que estes tenham uma resposta mais rapida antes da chegada dos bombeiros voluntários, isto porque têm freguesias (aldeias) a 45 Km da sua corporação, sendo apenas esta a formação administrada a pessoas externas. Anualmente fazem uma demostração, na comemoração do dia Nacional da Proteção Civil, em que expõem todas as suas viaturas e as diversas ações em que podem estar envolvidos, havendo além disso demostrações praticas para uma noção basica da população do tempo de atuação.

Antes de ingressar como bombeiros, é obrigatorio efetuar dois cursos obrigatorios dados pela Escola Nacional de Bombeiros, o TS (Tecnicas de socorrismo) e o TSD (Tecnicas de salvamento e desencarceramento). Após a Ana ter notas positivas nestes cursos é que ingressou como bombeira de 3ª Classe. Nessa altura não era obrigatorio efetuar um estágio, como atualmente.

P: Achas necessária mais formação ou é adecuada? E mais equipamento e meios? Na tua opinião são suficientes as regalias? E mais incentivos para as associações?

A formação obrigatória é pouca e seria essencial mais formação especializada, sendo que temos um plano de formação anual, na nossa coorporação que não é administrada por profissionais.

Atualmente os meios e equipamentos existentes na minha corporação parecem suficientes para a prestação de serviço que é efetuado á população na nossa zona (Vila de Cabeceiras de Basto com 16710 habitantes).

As regalias que temos são poucas, sendo que a autarquia tem permitido descontos nas faturas da água, descontos em acessos a edificios publicos, como piscinas municipais. Este ano foi nos oferecida a vacina da gripe, contudo o nosso volutariado é pouco reconhecido, somente nas epocas em que precisam dos nossos conhecimentos e força de vontade.

No Verão têm equipas preparadas para o combate aos incêndios florestais, sendo que o tempo minimo é de 12 horas, o que sua corporação optaram por turnos de 24 horas. Estas equipas são formadas por voluntários, que abdicam das suas vidas pessoais (dias de descanso da vida profissional) e permanecem durante 24 horas. Visto que, nessa altura, as suas folgas eram ao fim-de-semana, a Ana dava a sua disponiblidade para dois dias, fazendo assim 48 horas ao fim de uma semana de trabalho, isto aconteceu num periodo de 3 meses.

O combate aos incêndios florestais

P: Qual a tua opinião sobre os incêndios de Pedrógão? E sobre a recente declaração de calamidade? Cómo é que te afetou a declaração?

Um assunto muito delicado e com duas versões, uma antes de 15 de Outubro outra depois, na minha opinião.

Antes desta data, considerava-se uma falta de conhecimentos por parte dos bombeiros, falhas no combate e uma grande falta de organização, de todas as forças envolvidas, Bombeiros, GNR, ANPC e principalmente a falta de conhecimentos como atuar em caso de incêndios por parte das populações envolvidas.

Contudo, após o 15 de Outubro e por conhecimento de colegas que estiveram no combate nesse dia (por motivos pessoais não estive presente no combate), o incêndio teve um comportamento completamente diferente do habitual, um incêndio que se propagava em vários sentidos, de forma descontrolada, com temperaturas muito mais elevadas que o normal e com velocidades nunca antes vistas. Assim sendo, o incêndio comportou-se de uma forma fora do comum, dos quais nos bombeiros não estamos preparados, o que poderá ter acontecido em Pedrogão ao nível do incêndio. Porque no que toca ao número de vítimas é de uma falta de conhecimento, excesso de fumo (o que dificultava as deslocações) e do instinto no salvamento das suas habitações. As populações tiveram medo e acharam que o mais indicado seria fugir e foi isso que seguiram, sendo que foi uma escolha errada. Sendo que, este tipo de incêndios ao nível de extenção é normal haver todos os anos em Portugal, contudo este ano como existiram vitimas mortais por causa destes acontecimentos a mediatização foi enorme.

P: Em Espanha é esquisito ver mulheres nestes trabalhos tão perigosos de combate de incêndios forestais, qual a tua experiência nisto? Há menos mulheres entre os Bombeiros profissionais que entre os voluntários?

Em Portugal, as mulheres cada vez mais assumem funções de homens, o mesmo acontece nos bombeiros profissionais, sendo ainda num número muito reduzido. Nos voluntários, cada vez mais, temos mais mulheres, na minhão opinião, somos tão capazes de assumir as mesmas funções de um homem. Principalmente no combate a incêndios florestais existem muitas mulheres, em cada equipa de cinco elementos temos por norma uma ou duas mulheres.

Disse-nos que, a diferença do que se passa em Espanha com os voluntários da proteção civil ou da Cruz Vermelha, o seu quartel tem quartos para mulheres e quartos para homens, para as mulheres terem o seu espaço a vontade e não ficarem incomodadas.

Também é común ter familiares no serviço, como o caso do irmão da Ana, e ainda mais é uma paixão transmitida de geração em geração. Em Portugal este interesse é transmitido desde crianças, os corpos de bombeiros podem ter escolas de infantes e cadetes (desde os 6 até os 18 anos). Depois se pode ingressar na carreira de bombeiro voluntário ou na carreira de oficial bombeiro. Para esclarecer, há corpos de bombeiros Voluntários (bombeiros voluntários com pessoal assalariado), corpos de bombeiros mistos (com profissionais e voluntários), bombeiros municipais e bombeiros sapadores, estes últimos, nas cidades.


Orgulha-se da sua labor no combate de incêndios forestais mas também lá está se houver um incêndio urbano ou um acidente na estrada. Fala Ana com veradeira paixão do socorro e trasporte que faz de feridos e doentes, na urgência pré-hospitalar. Aliás, não por reconhocimento, só por satisfação pessoal, por gosto e por o bem–estar dos outros.

Quando está a trabalhar não tem medo porque não está a pensar nisso, só em ajudar, depois do que todo se passou é que se faz consciente do perigo ao que se expusera.

Pela sua experiência, os moradores somente ajudam no combate quando este se está a aproximar das aldeias ou locais habitacionais, contudo são muito prestaveis no que toca a logistica (alimentação e agua). Em relação à utilização dos pontos de água por parte dos meios aereos não havendo um pedido, estes utilizam sempre que acham necessario, em relação aos outros pontos de agua, como têm um contacto direito, normalmente é lhes permitido abastecer.

Embora os voluntários não sejam às vezes reconhecidos nem apoiados pela sociedade, sem eles as pessoas sentir-se-iam com muita menos segurança e tranquilidade. O seu labor é uma verdadeira mostra de abnegação e altruísmo que merece o nosso reconhecimento.

Susana Nonídez Benito

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Etiquetas: bombeiros, nos-otros. enero. 2018, portugal
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