É provável que, se falarmos em músicos portugueses tragamos a nossa memória nomes tão conhecidos como Amália Rodríguez, Carlos do Carmo ou Camané. Mas hoje, além do fado, gostava de pôr em destaque o grande pianista e compositor Bernardo Sassetti.
No ano passado têm-se desenvolvido inúmeras atividades para homenagear este talentoso artista que morreu em 2012 de maneira inesperada aos 42 anos de idade. Bernardo Sassetti, músico extraordinário, amante do cinema e da fotografia estava a fotografar numa falésia no Guincho quando caiu de uma arriba. A sua morte comoveu os corações de quem amamos a música e deixou uma ferida aberta na cultura portuguesa dificilmente recuperável.
Bernardo Sassetti nasceu em Lisboa a 24 de Junho de 1970. Era casado com a actriz Beatriz Batarda com que tinha duas filhas. Iniciou os seus estudos de piano clássico aos nove anos, mas nunca passou por nenhuma escola de música. Foi mais tarde, aos doze anos quando, ao ouvir Bill Evans numa transmissão radiofónica, descobre o jazz. Isto provocou que começasse a estudar este tipo de música, algo complicado nessa altura em Portugal. Nos anos oitenta quando quase não se divulgava o jazz, vive a sua paixão entre clubes, encontros com amigos e trocas de discos. Finalmente decide deslocar-se para Inglaterra onde, como ele disse: “comecei a ouvir a música com outros olhos”. Nesse novo ambiente Sassetti acedeu a novos meios que não eram os do jazz tradicional o que sem dúvida permitiu que começasse a moldarse a sua personalidade musical.
Já de regresso a Portugal foi convidado para participar na trilha sonora do filme “Maria do Mar-1930” o que lhe permitiu ampliar o seu imaginário musical confrontando a música com as imagens. A partir daí compôs para alguns filmes tão conhecidos como “Facas e Anjos” de Eduardo Guedes, “Quaresma” de José Alvaro de Morais, “Alice” de Marco Martins, ou “A Costa dos Murmúrios” de Margarida Cardoso.
Entretanto Bernardo Sassetti não dexou de editar discos, a solo no piano; “Indigo”, “Ascent”; en formação de trio; “Nocturno” o em colaboração com outros grandes músicos portugueses como Mario Laginha ou Pedro Burmester; “Grândolas“, “3 Pianos”. A sua transversalidade e generosidade levou-o a colaborar com músicos tão diferentes como Sérgio Goudinho, Carlos do Carmo ou Camané, editando discos com algunos deles.
Sassetti sempre mostrou interesse pela fotografia, mas a sua paixão acrecentou-se movido pela necessidade que tinha de associar a imagen à música que escrevia. Como ele confesou: “nós não podemos estar à espera de que a fotografia se apresente diante dos nossos olhos, nós temos de ir à procura das imagens”. Em 2007 começou a expor o seu trabalho como fotógrafo em Praga, Matosinhos ou Madeira.
Bernardo Sassetti foi, além de um músico extraordinário, um símbolo de criatividade e paixão. Um homem que queria sempre ir mais longe, que queria inovar e experimentar, com um profundo sentido da estética e da beleza. Compositor de grande sensibilidade que nos últimos tempos falava na procura do silêncio e no regresso à essencia: “a necessidade de parar e olhar para as coisas de forma profunda, com detalhe”.