Sabe-se que no ano de 1444, Castelo de Vide já tinha a sua judiaria e a sua sinagoga e que em 1492, a dita judiaria aumentava com a expulsão dos judeus de Espanha.
Durante muitos séculos, os judeus viveram em Portugal de acordo com a sua cultura e religião. Eram uma minoria, mas o rei D. Manuel I, no ano de 1496, expulsou-os pois queria um reino totalmente cristão. Quem não quis partir, foi obrigado a batizar-se e ficou conhecido como cristão-novo.
Em Castelo de Vide tanto os judeus quanto, depois, os cristãos-novos deixaram muitos testemunhos nas casas, nas ruas, nas tradições e nos costumes.
Em 1969, é descoberta a sinagoga. Em 1987, realizam-se as primeiras escavações arqueológicas e no ano de 2009 faz-se a inauguração do museu no qual se tem transformado. Assim, hoje podemos conhecer e desfrutar deste património e desta herança coletiva.
Jerusalém é a maior cidade de Israel, para onde se orientam as orações nas sinagogas em todo o mundo. Pela sua história milenar, é uma cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. Por isso, já dentro da sinagoga, vemos uma espécie de altar que sim, sim está virado para Jerusalém para onde se orientava o ritual religioso. Todavia, uma sinagoga tinha também outras funções, era um verdadeiro centro comunitário.
Neste museu, também, podemos encontrar a Arca Sagrada, um nicho ou armário na parede, mais uma vez voltada para Jerusalém, onde se guarda o Torá, o Livro da Lei, texto central da religião judaica. Temos o candelabro de sete braços, a estrela de David, símbolos de identificação dos judeus e a chamada “Mezuzá”, uma pequena caixa contendo a oração do Shemá colocada na ombreira da porta.
Depois, uma sala que poderá ter sido uma cozinha, algures no tempo, e onde há alguns pedaços de faianças.
E agora, a negritude. Este espaço pintado de negro simboliza precisamente um período negro da História portuguesa. Desde o ano de 1536 até 1821 estabeleceu-se a Inquisição em Portugal. Foram os tempos da intolerância, do desrespeito, das perseguições e de muitos, muitíssimos assassinatos apenas pelo facto dos judeus serem fiéis à sua religião. É um Memorial aos castelo-videnses, vítimas da Inquisição.
O museu dá-nos também conta das profissões que exerciam, ligadas principalmente à indústria têxtil, das moedas que se cunhavam, das plantas medicinais com que se tratavam as doenças…
Uma sala muito especial está dedicada à diáspora. Cheia de portas velhas com gretas na madeira, que ao abrirem, representam os lugares que acolheram os cristãos-novos pelo mundo inteiro. “Quando se fecham umas portas há sempre outras que se abrem”, mas muitos judeus levaram consigo as chaves da casa, talvez para voltar um dia…
Finalmente, estão representadas tanto a herança imaterial: danças, músicas, costumes, lendas, gastronomia, festas, celebrações, etc., como a herança material: objetos, construções, cidades, etc.
Este Museu de Castelo de Vide, dedicado à comunidade judaica da vila, é municipal e está instalado no mesmo edifício histórico, em tempos utilizado por judeus.