nós-otros
  • Inicio
  • nós-otros
    • Edición 2012
    • Edición 2013
    • Edición 2014
    • Edición 2015
    • Edición 2016
  • Noticias
    • Historia
    • Literatura
    • Cultura
    • Experiencias
  • Ilustraciones
  • Colaboradores
    • Participa con nós-otros
  • O que fiz eu a 25 de Abril de 74
  • Agenda
  • Formulario de reserva
  • Español
  • Português

A carta

marzo 23, 2018 Leave a Comment

Janeiro 1974. A mulher morava numa aldeia, como outras muitas, perto do río Douro, daquelas onde a vida é singela e dura, de pedras e mãos murchas.
A sua passava calma e nem mudanças, era a que ela sempre conheceu, não viajou muito, por volta desses anos ningém fazia isso, nem para dar à luz o seu único filho.
A sua rotina diária era a mesma das outras mulheres da aldeia, ela acordava muito cedo, reacendia o lume –humidade do rio bendito- e preparava o frugal pequeno almoço. O seu marido jantava em silêncio (no último ano e meio mudo para velho) e saiu para o campo ou para ver os poucos animais, ese día não atravessou o río para voltar com algumas moedas de contrabando.

Ela sabía que ainda era cedo, mais foi dar um passeio para ver as amendoeiras, desejava ver as flores brancas e repetiu: “as amendoerias florescerão em breve”, as pessoas olhavam com estranheza, estava muito frio.

Março 1974 (Fim de Março). Hoje ela achava ver alguns brotos nas amendoeiras, no raquítico pátio da sua casa, o tempo não passava e ela disse o seu mantra: “as amendoeiras florescerão em breve”, uma lágrima escorregou sem permissão, o inverno já era uma memoria vívida. Faltava menos.

Início de Abril 1974. O seu marido deu-lhe um beijo e saiu em silêncio, ela lembrou-se daqueles tempos onde tudo era barulho. O seu filho sempre lhe dava um beijo antes de sair, “Um por hoje e outro para o futuro caso não me lembre”, e saiu com o pai fazendo mil ruídos, assobiando ou cantando qualquer canção.
Os primeiros brotos estavam abrindo, a sua oração particular retumbou novamente.

Fim de Abril 1974. Só havia um caminho para entrar na aldeia e ela estava sempre lá, os murmúrios não a incomodaram, as amendoeiras já eram como uma queda de neve das antigas, o cheiro era intenso.
O carteiro -corvo preto- olhou-a de uma maneira estranha e perguntou-lhe pelo seu marido, com a carta na mão.

25 de Abril 1974. O silêncio doeu, a mãe olhava para as árvores, não sabendo se havia amendoeiras em Moçambique mas sabendo que ela não teria o seu beijo há muito aguardado –o beijo para amanhã-. O pai escovou a sua bochecha e deixou um cravo para ela na mesa. Hoje havia um sol desconhecido.

NOTA:
Nas guerras coloniais, 8.490 soldados portugueses morreram, 15.507 voltaram com sequelas físicas ou psíquicas (64.000 pessoas morreram entre guerrilheiros e civis).
O 25 de Abril de 1974 foi o começo do fim dessas guerras em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e o retorno de muitos jovens portugueses.

Alberto Santiago Martín Martín

(Editado por: Luis Rodríguez)

Comparte esto:

  • Haz clic para compartir en Twitter (Se abre en una ventana nueva)
  • Haz clic para compartir en Facebook (Se abre en una ventana nueva)
  • Más
  • Haz clic para compartir en Pinterest (Se abre en una ventana nueva)
  • Haz clic para compartir en LinkedIn (Se abre en una ventana nueva)
  • Haz clic para compartir en Pocket (Se abre en una ventana nueva)

Relacionado

Etiquetas: abril 1974, guerras coloniais, revolução dos cravos
Previous Article
Next Article

Related Posts

  • Ó, capitão, meu capitão!

    abril 25, 2018
  • Ved la voz líquida

    marzo 21, 2018
  • A mulher negra no Brasil

    marzo 20, 2018

RRSS

Agenda

No hay nuevos eventos.

Ver Calendario
Añadir
  • Añadir a Timely Calendar
  • Añadir a Google
  • Agregar a Outlook
  • Agregar a Apple Calendar
  • Agregar a otro calendario
  • Export to XML

Radio nós-otros

Nós-otros TV